El NÚCLEO 2CV DE COIMBRA ha tenido la gentileza de enviar su boletín informativo correspondiente al mes de Febrero, para conocimiento sobre las actividades de este Club, en especial sobre Eco-Raide Picos de Portugal Gerês-2003
BOLETIM INFORMATIVO – Fevereiro de 2003
O ECO-RAIDE AO GERÊS EM 2CV RELATO DE VIAGEM
No último fim de semana de Janeiro, o Núcleo 2CV de Coimbra e por ocasião do seu Aniversário, organizou mais este Raid, na linha daquilo que já nos habituou ou seja, a descoberta de novos trilhos (“piste”, como dizem os bicavalistas franceses), inseridos em formidáveis paisagens, fraterna camaradagem (com deliciosos piqueniques à beira das barragens transmontanas) e sobretudo com muita condução em 2cv, que no fundo é o que move os fundamentalistas destes (aparentemente) anacrónicos automóveis.
Basta referir o “entusiasmo” (pé na tábua, sejamos francos) com que os 2 CV atacaram o sinuoso troço Régua/Vila Real, que é de facto uma sucessão de cotovelos (exactamente como se fora uma fiada daquele tipo de massa italiana) e em que estas viaturas de perna longa, elasticamente inclinados a cada curva, proporcionam um carrocel de emoções que não é possível encontrar em nenhum dos actuais automóveis, salvo o caso das motas, mas aí … a inclinação é ao contrário.
Nesta, aparente, louca cavalgada feita à noite e em fila indiana compacta, a cada curva só temos olhos para as pernas (desnudadas até cima) dos três 2CV’s que nos antecedem, ou seja, os arcos das suspensões traseiras a trabalharem esticam até mais não poder.
Impressionante também é o facto de que nesta e outras cavalgadas, praticamente todos os condutores aguentam o ritmo e sem desfalecimentos, tenham eles 20 anos (os jovens também aceleram nos 2CV, pois então) ou tenham eles 74 anos de idade, como é o caso do Tomé, de Mortágua e daqui lhe tiro o chapéu pela juventude da sua impecável e rapidíssima condução, numa idade em que muitas pessoas ou são um perigo a conduzir ou pura e simplesmente querem sopas e (um merecido) descanso.
Sábado de manhã, saímos de Vila Real em direcção a Norte, (sobre um frio respeitável e com neve na serra do Alvão), passando por Vila Pouca de Aguiar, Boticas, inflectindo então para Oeste em direcção à Barragem do Alto Rabagão, onde piquenicámos partilhando lanches. Acabado o piquenique, fez-se uma fogueira para queimar o lixo, ao bom estilo Eco-Raider, o que também amenizou o frio envolvente e aproveitámos ainda para queimar parte do lixo que alguns incivilizados deixaram no local.
É lamentável o procedimento deste tipo de gente que grosseira e desnecessariamente, vai conspurcando sítios idílicos do nosso País.
Novamente rumámos a Norte em direcção a Pitões das Júnias, encontrando pelo caminho algumas estradas ladeadas de neve. Próximo desta aldeia, com a serra do Gerês em pano de fundo, cruzámos com alguns cavalos que andavam “a monte” e então o Liberal fez soar o relinchar da buzina do seu 2CV, tendo obtido várias respostas,… no mesmo tom.
Continuando para Norte, entrámos em Espanha (por uma estrada mais que secundária) passando por Calvos, inflectindo depois para Muiños. Posteriormente romámos a Sul e ao longo das Barragens das Conchas e do Alto Lindoso (que entra por Espanha dentro).
Esta estrada e à medida que nos aproximávamos de novo da Serra do Gerês (vertente Norte), começa a subir acentuadamente, logo, mais curvas em cotovelo.
A paisagem é esmagadora, não só pelo penedio envolvente, mas mais pela altitude das Serras que parecem precipitar-se sobre a estrada. Há gargantas e encostas com centenas de metros de altura, de onde se precipitam verdadeiras rios em cascata e não é um aqui e outro acolá, são mesmos muitos. Aliás, a água é uma constante no Gerês, pelo menos nesta época do ano.
Passada a Portela do Homem, onde (ainda) se faz sentir a omnipresença do posto fronteiriço de então e hoje abandonado, com as respectivas instalações em degradação (quer do lado de Espanha, quer do lado de Portugal), inicia-se a descida até às Caldas do Gerês, por uma das estradas mais belas e sinuosas do País. Nesta época do ano, prevalece na florestação adjacente à estrada a imagem dos carvalhos despidos de folhagem, como se tratasse de uma floresta morta ou petrificada e em que a densidade da mesma ainda a torna mais inquietante, fazendo-nos lembrar o ambiente recriado por alguns filmes, como o Parque Jurássico. Felizmente que o pôr do sol é extraordinário, magnífico e o que se lhe queira acrescentar, pois os tons violáceos/alaranjados intensos, recortados contra as vertentes montanhosas e as nuvens, são verdadeiramente únicos.
A descida até às Caldas do Gerês é outra epopeia de condução em 2CV e que desta vez é feita devagar, para apreciar a paisagem, mas na qual se utiliza muito pouco o travão, já que a boa técnica de condução nestes automóveis reside no balancear da aceleração/desaceleração ajustada às descidas, mas prioritariamente através do uso da “caixa” ( de velocidades).
Chegados ao Hotel Universal e logo introduzidos no salão/pátio interior, que é também um espectáculo para a vista, apreciámos de imediato e com muito agrado a excelente e grande lareira, a trabalhar em pleno. Este Hotel, foi recentemente submetido a obras de remodelação as quais respeitaram, no entanto, a sua traça de fins do século XIX.
Com efeito, o trabalho de arquitectura de interiores no grande salão, é notável e respira-se um ambiente a Arte Nova. As colunas em ferro fundido (tipo antigos candeeiros de rua) que suportam os corredores de acesso aos quartos dos pisos superiores, são completadas com rendilhados de ferro fundido (entre elas) que ainda hoje ostentam as letras G H U – Grande Hotel Universal, ou seja, bem ao estilo da “Belle Époque”.
Foi neste ambiente e com a bandeira do Núcleo em “pano de fundo”, que decorreu a Assembleia Geral para aprovação de contas do exercício de 2002 e para a apresentação do programa de Raid’s para o corrente ano, onde sobressai obviamente o próximo Raid a Portugal (de 1 a 10 de Maio), organizado pela N.O.R.E.V., Baroudeurs de Noyal – Sur – Vilaine , Bretanha, França. Esta será a quarta visita (em oito anos), que este intrépido clube Bretão fará a Portugal, sempre apoiado pelo Núcleo 2CV de Coimbra, e que no seu C.V. averba Raid’s à Macedónia, Marrocos, Líbia, Turquia/Síria, etc.
A exemplo do último “ Raid des Barroudeurs au Portugal”, realizado em Maio de 2001, o “road- book” é traçado segundo levantamentos feitos pelo Núcleo e esta foi a principal razão deste Eco-Raid ao Gerês. Note-se que a N.O.R.E.V., co – financiou a reconstrução da nossa 2 CV – AK 400 e com a adaptação do Kit-Aventure da Citroen (reforço para todo o terreno). Esta carrinha de apoio aos Raid’s e em cujo registo de propriedade figura o nome do Núcleo, pode ser requisitada por qualquer sócio, disponibilidade esta não muito comum (senão única), a nível dos clubes nacionais similares.
Este grupo francês, constituído por homens e mulheres calejados nestas andanças fazem-se transportar em 2 CV’s e derivados, que mais parecem verdadeiras máquinas agrícolas (rápidas) e são apoiados por três/quatro jipes e um enorme camião oficina, também de tracção às quatro rodas.
De manhã, subimos à Pedra Bela, de onde se abarca a vista do Vale do Gerês e Barragem da Caniçada, bem como, das montanhas vizinhas. Soberbo ! Posteriormente iniciámos a descida (em direcção a sul) por um trilho que ostentava uma placa, onde se lia … “caminho em mau estado”. Não hesitámos e enfiámos por ele abaixo. Afinal o piso não estava muito degradado, àparte alguns (pequenos) lagos de lama, sulcos de enxurradas e pedras soltas, tudo coisas facilmente ultrapassáveis pelos nossos elásticos automóveis, facto que já não se verificará e sentirá a bordo da maioria dos poucos jipes que se aventuram por estes trilhos, como aliás podemos constatar ao cruzarmos com uma coluna deles, devidamente empacotados entre dois Land Rover’s da Organização. São grandes, pesados, desajeitados, rijos e pouco manobráveis, tudo “atributos” de que os 2 CV não padecem.
Trilho abaixo, trilho acima, cova aqui, cova acolá, com pontes de madeira à mistura, etc., é o que se nos depara ao longo do caminho, ladeado de toros de árvores cortados pelos madeireiros, escarpas rochosas e cascatas exuberantes.
Assim chegámos à Barragem de Venda Nova para mais… um piquenique e sob uma temperatura muito mais amena.
Novamente na estrada, em direcção a Sul, passámos por Cabeceiras de Basto, atravessámos aldeias semi-adormeçidas, até que subimos, mais uma vez, à Senhora da Graça, subida sempre espectacular pela sua inclinação e curvas, embora o recente alargamento da estrada e colocação de rail’s de protecção lhe tenha tirado muito do “frisson” que tinha anteriormente. No topo, estava um mar de gente e um quase engarrafamento, pelo que nem parámos e iniciámos logo a descida, optando por um trilho já nosso conhecido, onde só se vêem rastos de tractores e de lagartas dos caterpillar’s florestais. No ar, suavemente e apesar do frio do fim de tarde, planavam dois ”furiosos” do para-pente.
Este troço, apesar de não ser tão inclinado como os precedentes, obriga a muita condução e por vezes bem rápida, afim de se evitarem atascanços nas autênticas lagoas de lama preta, que por vezes são bem longas.
Entrados na Serra do Alvão, vindos de Norte e em direcção a Vila Real, passámos junto à aldeia de Lamas de Olo, que tem uma pequena barragem a sudoeste e que é um sítio lindíssimo. Predomina a pedra nas construções da aldeia, que está implantada numa encosta virada a Sul/Poente e junto à qual o gado bovino pasta de uma forma livre e pachorrenta.
Passada Vila Real, já era noite cerrada, cansados mas a pensar já no próximo Eco-Raid, iniciámos então a viagem de regresso, que no caso do relator terminaria em Lisboa, por volta da meia-noite e 400 kms depois.
Quem disse que os 2 CV são lentos ?
Lisboa, 2002/02/02
Luis F. Gouveia
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